domingo, 27 de outubro de 2019

Eu já tenho uma filha, mas só pari quando tive o segundo filho...

Se você não entendeu o título desse post, recomendo que leia esse aqui (é só clicar) pelo menos o começo, ou os dois primeiros parágrafos pra ser mais exata.

Agora sim, posso relatar o nascimento do meu segundo filho:

(com bônus sobre coisas que ninguém nos conta sobre parir... De verdade! E olha que já li dezenas de "relatos de parto" ...)

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No dia 31/05 fizemos a última ultrassom.
Eu desconfiava, mas a médica confirmou: você está tendo contrações.
E ainda completou: as malas da maternidade estão prontas?
Era questão de dias para Riquinho vir ao mundo... Ah, e não foi só o fato de ter contrações durante a ultrassom que fez a médica me alertar quanto a proximidade do nascimento, mas também pela cabeça dele já estar bastante encaixada; tanto foi que ela mal conseguiu medir o seu perímetro cefálico.
Pois bem, na segunda, dia 03/06, comecei a perder o tampão mucoso; saiu uma parte significativa (pelo menos essa foi a minha impressão e tirei até foto!) só que ainda iria sair mais: durante o banho, naquele mesmo dia de tarde, e na terça e na quarta (dessa vez com uns pontinhos de sangue).
Na madrugada da quarta, dia 05/06, tive mais contrações, dessa vez acompanhada de dores, parecidas com cólicas menstruais. Ao longo do dia essas contrações se intensificaram, ao mesmo tempo que, por alguns períodos, era como se tivessem desaparecido. Consegui até acompanhar André (meu marido) para arrumarmos um flat que alugamos por temporada.
Lalá, nossa primeira filha, ficou em casa com painho.

De tarde, as contrações começaram a ficar ritmadas, acompanhei pelo aplicativo, e as cólicas mais intensas. Um parêntese: eu que julgava um mero capricho da modernidade baixar um aplicativo no celular para acompanhar o ritmo das contrações no trabalho de parto (TP), acabei mordendo a língua! Baixei, usei e aprovei! Porque imagina você ter que cronometrar não só o tempo das contrações, mas também o tempo dos intervalos entre elas e correlacionar tudo isso?! Por outro lado, é estranho, desconfortável até, você sentindo dores, não poder largar o celular pra não perder o tempo certo de marcar uma e outra coisa.
Fechado o parêntese... Decidimos ir para o Hospital da Mulher do Recife (HMR) por volta das 18hs. Eu, painho e André ficamos com receio de pegar engarrafamento, e ainda que o aplicativo tivesse marcando uma média de 7 minutos entre uma contração e outra, e o indicado fosse ir para maternidade quando essa média desse 5 minutos, seguimos assim mesmo.
Chegando lá, cerca de 20 minutos depois (esperamos mais ou menos esse mesmo tempo para que eu fosse atendida) passei pela triagem até ser atendida por uma médica que, por sua vez, fez o exame de toque e viu que eu estava com (tcharam) 1cm de dilatação!
Isso mesmo! 1 cm! Dores já relativamente fortes e eu só estava com 1 cm! A médica nos disse então que tínhamos 2 opções: Esperar na recepção, andando, se movimentando para acelerar o processo de TP e ser reavaliada 4 hs depois; ou voltar para casa já que morávamos “perto” para retornar ao HMR mais tarde. Pedi a médica que falasse sua opinião, como esperava, ela disse que recomendaria a 2ª opção.
Não queria mesmo ficar horas incontáveis numa recepção fria e desconfortável, esperando sabe-se lá quanto tempo o TP evoluir, então voltamos pra casa. Lá, as contrações/cólicas se intensificaram rapidamente; eu me contorcia de dor em cima da cama, não conseguia andar ou me exercitar, mas era impossível que, no estágio em que estava, o TP não tivesse evoluído. Era mais de 22hs quando resolvemos voltar para o HMR. Dessa vez, Ítala (minha prima), que já estava lá em casa, foi com a gente. Lalá, agitadíssima, ficou com mainha, outra agitada.
Já no HMR eu só fazia gemer de dor até passar pela triagem e finalmente chegar no médico de plantão. Esse, por sua vez, diferente da médica que me atendeu mais cedo, fez um exame de toque com tamanha brutalidade que tenho quase certeza que a bolsa estourou ali mesmo, porque quando desci da maca expeli muito líquido e sangue.
Bem, subimos para o pré-parto, eu e Ítala, André chegou depois, quando finalmente pode nos acompanhar. Troquei a roupa que estava pela bata que me deram e segui para uma espécie de quarto; a todo instante as enfermeiras quando vinham me ver e fazer a ausculta do BB orientavam que eu caminhasse, que fizesse exercício, e eu só pedia que me dessem uma analgesia e dizia que a dor me impossibilitava de fazer esses exercícios.
Um detalhe: quando troquei de roupa pela bata, fui para o chuveiro com água quente, mas não senti tanto alívio quanto esperava, além de não me sentir muito à vontade pois era um banheiro para uma sala grande, com muitas outras mulheres que certamente precisariam usar em algum momento. Nesse quarto que fiquei depois não tinha água quente.
Não demorou muito e me levaram para um alojamento com outra mulher (que estava grávida, mas não em TP); fiquei envergonhada porque a medida que a hora passava e as dores aumentavam, eu só fazia gritar pedindo socorro, dizendo não aguentar mais, e essa mulher silenciosa, em repouso, do meu lado. Mas eu não aguentava mesmo! Quase não havia intervalo entre as contrações, e vinha uma pressão tremenda no ânus! Pensei “Vou fazer cocô aqui!” E também me sentia meio abandonada, porque por mais que eu pedisse ajuda, demoravam muito para virem me ver, e sempre eram evasivas quanto a aplicação da analgesia, diziam “ah, vamos pedir autorização”.
A coisa começou a engrenar quando a médica (a que me atendeu quando cheguei pela 1ª vez no Hospital) veio, enfim, me ver.
Antes disso, a mesma médica me viu quando ainda estava no corredor, a caminho daquele quarto sem água quente, e disse: Olha! Você já está aqui! Foi rápido! (ela se referia a evolução da dilatação).
Então quando essa médica, Dra. Isa (Isa + alguma coisa menos comum, por isso passei a chamá-la assim) veio me ver, percebeu que Riquinho já estava aparecendo! Ou seja, pra quê analgesia naquela altura do campeonato?
Imediatamente ela chamou o resto da equipe e pediu o material hospitalar necessário; perguntou se eu queria mudar de posição (estava deitada na cama) e me ofereceu a banqueta, colocando-a em cima da cama mesmo! Tiramos a bata (já estava muito suja de sangue e devia estar uma bagunça de tanto que eu me contorcia).
Dra. Isa me orientou a fazer força quando a contração viesse; na verdade era para fazer força quando viesse a vontade de fazer cocô, sem medo! Entorpecida pela dor e determinada a fazer de tudo para terminar aquilo, fiz toda força que pude quando veio novamente a contração, dei um gritão daqueles longos e roucos e senti o ardor lá embaixo, algo estava se rasgando... era a cabeça de Riquinho!
Pronto! Passada essa contração, Dra Isa disse “Olha a cabeça dele!”. Olhei de relance, com medo de perder a determinação de fazer o máximo de força. A Dra. continuou: “Na próxima contração, você faz essa força de novo e ele sai todo.” E foi assim que fiz. Se era pra acabar logo aquele ardor, o chamado “círculo de fogo” eu faria novamente aquela força, afinal o bebê estava “entalado” ali. A  contração veio novamente, fiz força, gritei...
Então, Riquinho nasceu. E veio pra mim, silencioso, com olhos atentos. Diferente de Lalá, quase não tinha o vernix. Com ele ainda nos braços, a placenta logo desceu (não senti nada, a não ser ela escorregando, já caindo na cama).
André cortou o cordão umbilical e levaram Riquinho para os procedimentos de praxe: nasceu com 46 cm e 3 256 kg. Enquanto isso fiquei na cama sendo ponteada (até o ânus!) pois tive laceração grau 2.
Assim Riquinho veio ao mundo, e aqui registrei tudo que pude para que um dia ele possa ler e ter uma mínima noção do que passamos juntos no seu nascimento.
Foi uma experiência impressionante, ímpar! E agradeço muito a Deus por isso! Por sentir literalmente na pele o quão milagroso é gerar (mais 1 vez) e parir naturalmente.

Agradecimento mais que especial à Ítala! Um anjo!
Tirou minha roupa ensanguentada (até minha calcinha!); me fez carinho, me apoiou, não saiu de perto de mim um instante até Riquinho nascer!
Sendo estudante de enfermagem, também me passou muita segurança.
Quem sabe não teremos uma futura enfermeira obstétrica, doula e tudo mais?!!!!!

 Coisas que ninguém me disse sobre parir:
1.   Tenha absorvente antes, no pré-parto também (quando vc ainda está em casa, por exemplo) porque também sangramos antes.
2.  Peça, antes de ficar enlouquecida com as dores, que seu acompanhante tire fotos, principalmente da hora H, e se vc não tem fotógrafo contratado, claro. Fico triste quando lembro que não tem fotos desses momentos relatados.
3.  Vc pode ter hemorragia pós parto, como foi o meu caso. No entanto, não precisei passar por intervenção cirúrgica. Embora tenha perdido muito sangue (bastante coágulo inclusive), fui examinada com sucessivos exames de toque e fiquei em observação uma tarde inteira. 

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