sábado, 31 de agosto de 2019

"Eu lembro da moça bonita na praia de Boa Viagem... "

Hoje relembro meu relato sobre o nascimento de Labelle, minha primogênita.
Na época, escrevi para publicar num grupo de gestantes que participava no Facebook: o Boa Hora.
Hoje não tenho mais conta nessa rede, no entanto tenho o texto salvo no email. Afinal, a quem mais interessa essa narrativa senão a mim, aos meus e, claro, a minha filha. Ter uma cópia no email foi a forma que encontrei de salvar para a posteridade, para que  Labelle leia e saiba como ela veio ao mundo.

Então, salvo as devidas modificações (para o contexto desse blog), cá está meu registro:

Durante minha gestação a única vez que fui a um encontro do grupo (Boa Hora) aprendi que só existe um parto quando há a expulsão do bebê pelo canal vaginal; uma cesárea é outra coisa, é um procedimento cirúrgico. E nem toda cesárea é uma "desnecesárea". Cada caso é um caso, mas todos tem algo em comum: o nascimento.
E não é porque passei por uma cesárea que o nascimento da minha bebê seja menos importante e emocionante, ou que eu tenha me empoderado menos. Inclusive relatar a minha experiência é uma questão de empoderamento. E aqui segue meu relato...

"De duas vidas, uma se fez, e eu me senti nascendo outra vez... "

De todas as grandes emoções, de todas as situações excepcionais que já vivi (a perda da virgindade; a 1ª viagem de avião; conhecer outros Estados e até outros países; me formar em Design; concluir o mestrado em História; engravidar) nada, absolutamente nada, até aqui, foi tão intenso e incrível quanto o nascimento da minha filha.

Tive medo, muito medo! Diferente de muitas mães que conheço, era como se eu não quisesse passar a fase da barriga, ou não tivesse curiosidade de conhecer aquele serzinho que estava dentro de mim. Nunca soube lidar muito bem com mudanças mais drásticas, mas principalmente, tenho pavor a tudo que possa me causar dor...
Diante das circunstâncias (a bebê estava pélvica - sentada - e já tinha 33 semanas) não tive outra opção senão agendar uma cesárea. Até poderia insistir no parto normal, que era o que queríamos desde o início, mas teríamos que contratar - por no mínimo 7 mil reais - uma equipe médica especializada nesse tipo de parto.
Assim, acompanhamos o avanço da gestação, ainda com esperanças que ela mudasse de posição, mas, preguiçosa como os pais, ela seguiu sentada. (Digo isso, porque como uma boa gestante preguiçosa que fui, não fiz nenhum exercício físico regular, ou mesmo os exercícios indicados pela doula para que a bebê pudesse virar).
Então, com 39 semanas e 5 dias, em 18 de maio de 2016, numa quarta, às 7h30min, lá fomos nós para a sala de cirurgia. O maqueiro, diante do meu choro desesperado, tentou me tranquilizar lembrando que muitas mulheres passavam por aquilo e depois tudo terminava bem. Na sala, que estava na penumbra, fui recebida ao som de passarinhos cantando, som de natureza mesmo, e a pergunta se aquele ambiente lembrava o clima que fazia em Carpina. Sim! A minha querida obstetra teve o carinho de levar e me receber com um som que me remetesse à tranquilidade da minha casa (na época, uma pequena chácara. E essa foi outra razão pela qual eu não poderia esperar entrar em trabalho de parto, pois morava longe da região metropolitana e de alguma opção de hospital para me atender, e isso não é recomendado, principalmente estando com um bebê pélvico).
Não parou por aí. Continuei muito nervosa, numa tremedeira sem fim, mas fui abraçada - para receber a anestesia - fui tocada, acariciada (a anestesista, Drª. Kalina, parecia um anjo, doce, serena, quase não saiu de perto da minha cabeça, ficava alisando minha testa e sobrancelhas). Minha doula, Diva, não teve tanto trabalho quanto se fosse um parto normal, no entanto foi de uma presença constante, tirou fotos, segurou a minha mão, e principalmente, foi ela quem me levou a essa equipe médica espetacular!
Não sei que raios de tremedeira eu tinha, um nervosismo fora do comum, e não sei se isso interferiu, mas a anestesia raqui não fez efeito e tiveram que aplicar novamente. Foi engraçado que quando já estava deitada e me perguntaram se eu sentia minhas pernas, com medo, gritei "não cortem, ainda sinto minhas pernas" e todos riram. Isso me marcou: a equipe era muito entrosada e bem humorada. Já a parte da mesa cirúrgica está "desnivelada" e, durante o procedimento tentarem resolver isso, não lembrava, até meu marido comentar.
Um parêntese: a cirurgia aconteceu na Maternidade Santa Lúcia; preferi que fosse lá pelas boas recomendações acerca dos funcionários, do tratamento mais humanizado, diferente de outros hospitais. Porém, o que falavam sobre a infraestrutura deixar a desejar , realmente é verdade, e meu marido sempre endossa isso, especialmente em função desse incidente. Mas nada que interfira na excelente lembrança que guardo desse dia.
Cirurgia seguiu tranquila e rapidamente, como deve ser, até que ao som de "Labelle de Jour", de Alceu Valença,n Labelle, por volta das 7h50min, com 3.632 kg e 45 cm. (Sim! Minha querida Dra. Viviane levou em sua seleção musical, a música que me inspirou na escolha do nome da minha filha),
Foi impressionante! Emocionante! André, meu marido, a pegou (ela agarrou com força alguns de seus dedos), ela veio direto pra mim, tive vontade de vomitar com o cheiro do vernix e também pelo efeito colateral da anestesia (e acabei vomitando mesmo... fiquei tão grogue quando o processo cirúrgico terminava que pensei que fosse morrer) mas consegui olhá-la, tocá-la... sorri, sorrimos eu e o pai enquanto ela nos observava. Seu cordão umbilical não foi cortado de imediato, não teve aplicação de colírio, não tomou banho antes das 24h de nascida, não tomou mamadeira mesmo que meu leite não tivesse descido logo, e sua placenta foi gentilmente guardada conforme o pedido da avó, minha mãe.


Agradeço a minha mãe Maria Morais, meu marido André, minha doula Diva Divina, meus amigos Débora e Didi, que se fizeram presentes antes, durante e depois... Dra. Viviane Pontes Medeiros, Dra. Kalina, Dr. Tiago Thiago Cesar Parente Saraiva, Dra. Cristiane, Dr. Raniere Quirino (me acompanhou no pré-natal, mas teve que se afastar pelo falecimento de seu pai), as enfermeiras e tantos outros funcionários da Santa Lúcia.
Agradeço ao meu bom Deus, misericordioso, que me concedeu a dádiva de ser mãe e percorrer todo esse caminho: concepção, gestação, nascimento, criação.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Pra começar...

Sinto uma necessidade muito grande de escrever.

De ler e de escrever. Mas ultimamente só tenho lido principalmente "textão" de redes sociais (e olha que nem tenho mais conta nas mais famosas - leia-se Facebook e Instagram). Quanto a escrever, aí mesmo é que estou em dívida comigo mesma!

Sempre norteada (ou travada) pelo dilema: Escrever pra quê? Pra quem? Por quê? Fico adiando uma vontade absurda de colocar em linhas tantas coisas que me passam pela cabeça, pelo coração (que piegas), ou mesmo resgatar textos antigos nos quais trabalhei com esmero e que, também por isso, merecem ser reescrevidos e novamente assinados por mim, afinal, essa é uma marca que sempre tive orgulho de ostentar: uma escrita razoável (falando sincera e modestamente).

A grande questão não é escrever, mas sim "publicar".
Por que tornar público o que escrevo, que muitas vezes pode ser bastante particular, logo na internet? Terra sem lei aparentemente... Por que optar por escrever num (falecido) blog? Enquanto plataforma de divulgação e de grande alcance, o blog já teve seus dias de ouro.
Certamente busco alguma espécie de validação social para o que escrevo, talvez alguma notoriedade. 
Porque um texto escrito, guardado e não lido, não tem o efeito, não cumpre o seu propósito de comunicar de um texto publicado, "público e notório". 
Eu poderia ainda citar inúmeras outras coisas, como "o ser humano não é uma ilha" e precisa interagir; ou, que sou geminiana, comunicativa por natureza; e pra ser bem humorada, posso dizer que escreverei por aqui já que não tem nenhum jornal ou revista que me pague pra eu escrever por lá, etc. (sonho de consumo aliás, ou melhor, sonho de trabalho... Já fui colunista de uma revista, mas escrevia apenas em tópicos dicas de consumo/moda e também não era remunerada por isso, ou seja, se mal podia exercitar a minha escrita, igualmente não podia "viver disso".)

Gosto mesmo de escrever, de concatenar ideias, de jogar com as palavras, de fazer um pouco de poesia.
A última vez que escrevi pra valer foi na dissertação do mestrado. Só não foi tão prazeroso porque texto científico é outra história... E por falar nisso, por mais que eu estivesse relatando uma história que me foi instigante pesquisar, sobre o bordado manual da cidade de Passira-PE, e que estivesse realizando o sonho de me tornar Mestra (em História Social da Cultura), as recomendações da escrita científica (e da ABNT) podem ser altamente desestimulante, tornando o ato de escrever uma obrigação massante.
Mas volto a falar disso em outra ocasião.

Aqui, agora, só quero escrever (e publicar).
Escrever livre e francamente, sem um assunto pré-definido. Inclusive porque o próprio assunto é o (re)começo da publicação do que escrevo pra mim, à quem possa interessar. 
E se me comprometo a não ter compromissos com nenhuma razão mais específica nos meus textos por aqui, pelo menos por ora, também não vou buscar a perfeição de uma lógica ou racionalidade nessa retomada, porque "feito é melhor que perfeito", e isso tem sido meu mantra dos últimos meses.

Então, está feito!
Só pra começar...